Fomos à salgadeira da Dona Cleide
que fica perto da escola de música. Ela fez revelações impressionantes. “Eu
gosto muito dele. É curioso, porque ele é o meu melhor cliente, mas nunca me
entregou um real sequer, coitado!”, nos disse Cleide. Confusos com isso,
continuamos nossa conversa com a proprietária, “ele vem aqui quase todos os
dias, mas sempre vem acompanhado com algum aluno, professor ou amigo dele. Come
por volta de uns três salgados, mas nunca tem dinheiro, aí a outra pessoa paga”.
Dona Cleide disse que não se importa com isso, e no começo pensou que ele se
prostituia por salgados, mas quando soube que não aproveitou a situação. Desde
que Sicha começou a freqüentar a lanchonete ela já contratou cinco
funcionárias. “Eu sempre pergunto na escola quando ele entra de férias para eu também
dar férias pras meninas. O movimento cai 80% nessa época.”
No sábado tentamos a nossa última
abordagem. Fomos à casa de Sicha novamente, mas devido a uma música muito alta
não ouviram o interfone. Nesse momento estava saindo um veiculo utilitário da
garagem, adesivos diziam que era do açougue do Gérson. O condutor parou para
conversar com nossa equipe. “Nossa, é todo sábado que venho aqui trazer as
coisas. Todo sábado tem churrasco. O açougue fica a um quarteirão, mas tenho
que vir de carro porque é muita carne, carvão, cerveja e outras bebidas. Carne
só picanha, um pouco de lingüiça. Mas frango ele não come, diz que lembra um
amigo dele.” Revelou Luiz, o entregador, e terminou a entrevista dizendo, “mas
vocês me dão licença que eu ainda tenho que encher mais uma vez o carro, tenho
que trazer a outra metade da mercadoria.”
Após essa entrevista desistimos
de falar com Sicha. Podemos compreender superficialmente esse “fenômeno Sicha” na
economia local. Graças aos hábitos do famoso multi-tarefas ele gera empregos
diretamente, como o mordomo Jaime e outros empregados em sua casa, no pesqueiro
do Toshiro, na escola em que ele dá aulas e açougue. E ainda empregos que são
gerados indiretamente, como na fábrica de ração, na fazenda e lanchonete.
Enfim, Sicha é gente que faz.
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