segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Único Assassinato de Cazuza - parte 2


O Único Assassinato de Cazuza

de Lima Barreto


você encontra a parte 1 aqui.

...continuando

Os dois calaram-se e, silenciosos, se puseram a fumar. Ambos pensavam numa mesma coisa: em encontrar remédio para um tão deplorável estado de coisas. Mal acabavam de fumar, Ponciano disse desalentado:

- E não há remédio.

Hildegardo secundou-o.

- Não acho nenhum.

Continuaram calados alguns instantes, Hildegardo leu ainda um jornal e, dirigindo-se ao amigo, disse:

- Deus não me castigue, mas eu temo mais matar do que morrer. Não posso compreender como esses políticos, que andam por aí, vivam satisfeitos, quando a estrada de sua ascensão é marcada por cruzes. Se porventura matasse creia que eu, a que não tem deixado passar pela cabeça sonhos de Raskólnikoff, sentiria como ele: as minhas relações com a humanidade seriam de todo outras, daí em diante. Não haveria castigo que me tirasse semelhante remorso da consciência, fosse de que modo fosse, perpetrado o assassinato. Que acha você?

- Eu também; mas você sabe o que dizem esses políticos que sobem às alturas com dezenas de assassinatos nas costas?

 - Não.

- Que todos nós matamos.

 Hildegardo sorriu e fez para o amigo com toda a serenidade:

- Estou de acordo. Já matei também.

O médico espantou-se e exclamou:

- Você, Cazuza!

- Sim, eu! - confirmou Cazuza.

- Como? Se você ainda agora mesmo...

- Eu conto a coisa a você. Tinha eu sete anos e minha mãe ainda vivia. Você sabe que, a bem dizer, não conheci minha mãe .

- Sei.

- Só me lembro dela no caixão quando meu pai, chorando, me carregou para aspergir água benta sobre o seu cadáver. Durante toda a minha vida, fez-me muita falta. Talvez fosse menos rebelde, menos sombrio e desconfiado, mais contente com a vida, se ela vivesse. Deixando-me ainda na primeira infância, bem cedo firmou-se o meu caráter; mas, em contrapeso, bem cedo, me vieram o desgosto de viver, o retraimento, por desconfiar de todos, a capacidade de ruminar mágoas sem comunicá-las a ninguém - o que é um alívio sempre; enfim, muito antes do que era natural, chegaram-me o tédio, o cansaço da vida e uma certa misantropia.

Notando o amigo que Cazuza dizia essas palavras com emoção muito forte e os olhos úmidos, cortou-lhe a confissão dolorosa com um apelo alegre:

- Vamos, Carleto; conta o assassinato que você perpetrou.

Hildegardo ou Cazuza conteve-se e começou a narrar.

- Eu tinha sete anos e minha mãe ainda vivia. Morávamos em Paula Matos... Nunca mais subi a esse 
morro, depois da morte de minha mãe...

- Conte a história, homem ! - fez impaciente o doutor Ponciano.

- A casa, na frente, não se erguia, em nada, da rua; mas, para o fundo, devido à diferença de nível, elevava-se um pouco, de modo que, para se ir ao quintal, a gente tinha que descer uma escada de madeira de quase duas dezenas de degraus. Um dia, descendo a escada, distraído, no momento em que punha o pé no chão do quintal, o meu pé descalço apanhou um pinto e eu o esmaguei. Subi espavorido a escada, chorando, soluçando e gritando: "Mamãe, mamãe! Matei, matei..." Os soluços me tomavam a fala e eu não podia acabar a frase. Minha mãe acudiu, perguntando: "O que é, meu filho !. Quem é que você matou?" Afinal, pude dizer: "Matei um pinto, com o pé."

E contei como o caso se havia passado. Minha mãe riu-se, deu-me um pouco de água de flor e mandou-me sentar a um canto: "Cazuza, senta-te ali, à espera da polícia." E eu fiquei muito sossegado a Um canto, estremecendo ao menor ruído que vinha da rua, pois esperava de fato a polícia. Foi esse o único assassinato que cometi. Penso que não é da natureza daqueles que nos erguem às altas posições políticas, porque, até hoje, eu...

Dona Margarida, mulher do doutor Ponciano, veio interromper-lhes a conversa, avisando-os que o "ajantarado" estava na mesa.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Classe "A" Investiga - Fenômeno Sicha _ Part 3 (final)

Fomos à salgadeira da Dona Cleide que fica perto da escola de música. Ela fez revelações impressionantes. “Eu gosto muito dele. É curioso, porque ele é o meu melhor cliente, mas nunca me entregou um real sequer, coitado!”, nos disse Cleide. Confusos com isso, continuamos nossa conversa com a proprietária, “ele vem aqui quase todos os dias, mas sempre vem acompanhado com algum aluno, professor ou amigo dele. Come por volta de uns três salgados, mas nunca tem dinheiro, aí a outra pessoa paga”. Dona Cleide disse que não se importa com isso, e no começo pensou que ele se prostituia por salgados, mas quando soube que não aproveitou a situação. Desde que Sicha começou a freqüentar a lanchonete ela já contratou cinco funcionárias. “Eu sempre pergunto na escola quando ele entra de férias para eu também dar férias pras meninas. O movimento cai 80% nessa época.”



No sábado tentamos a nossa última abordagem. Fomos à casa de Sicha novamente, mas devido a uma música muito alta não ouviram o interfone. Nesse momento estava saindo um veiculo utilitário da garagem, adesivos diziam que era do açougue do Gérson. O condutor parou para conversar com nossa equipe. “Nossa, é todo sábado que venho aqui trazer as coisas. Todo sábado tem churrasco. O açougue fica a um quarteirão, mas tenho que vir de carro porque é muita carne, carvão, cerveja e outras bebidas. Carne só picanha, um pouco de lingüiça. Mas frango ele não come, diz que lembra um amigo dele.” Revelou Luiz, o entregador, e terminou a entrevista dizendo, “mas vocês me dão licença que eu ainda tenho que encher mais uma vez o carro, tenho que trazer a outra metade da mercadoria.”



Após essa entrevista desistimos de falar com Sicha. Podemos compreender superficialmente esse “fenômeno Sicha” na economia local. Graças aos hábitos do famoso multi-tarefas ele gera empregos diretamente, como o mordomo Jaime e outros empregados em sua casa, no pesqueiro do Toshiro, na escola em que ele dá aulas e açougue. E ainda empregos que são gerados indiretamente, como na fábrica de ração, na fazenda e lanchonete. Enfim, Sicha é gente que faz.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Classe "A" Investiga - Fenômeno Sicha - Parte 2

Em nossa saída vimos um caminhão entregando a ração utilizada pelo Sr. Toshiro. Resolvemos ir mais a fundo na investigação. Marcamos uma entrevista para terça-feira pela manhã com Antonio Manuel Ferreira, proprietário da fábrica de ração. Ele nos atendeu no horário combinado. “Estavamos quase fechando quando o Toshiro aumentou a quantidade de pedidos”, revelou Antonio. “Isso foi a uns três anos atrás. Perguntei ao japonês o que havia acontecido e ele me respondeu que havia um novo cliente: Danilo Sicha. Ele continua indo lá te hoje e graças a ele já troquei minha frota de caminhão, dobrei a produção e contratei mais alguns ajudantes.”



Depois de uma bela refeição, o sr. Antonio nos levou à fazenda “Mar Dourado” que fornece a matéria prima para a produção de ração. Na fazenda conversamos com o Sr. Matias, “Os negócios estão indo de ‘vento em poupa’. Chegamos a fechar um contrato de exclusividade com o sr. Antonio (fábrica de ração) para vender nosso milho. Antes metade da fazenda eu plantava milho e na outra metade criava umas vaquinhas, umas galinhas. Hoje é tudo milho e comprei a (fazenda) do vizinho que plantava cana. Coitado, o álcool pode chegar a dez reais o litro que ainda perde do meu contrato com o Sr. Antonio.”



Já na quarta-feira ainda não havíamos desistido de conversar com Danilo Sicha. Dessa vez tentamos uma abordagem diferente, fomos à escola em que ele dá aula de música. Músico, jogador, empresário e ainda professor. Porém, quarta-feira, também, é dia de folga dele. Aproveitamos e conversamos com alguns alunos presentes e funcionários. “Ele é gente boa, o único problema é que sempre se atrasa”, revelou Jéssica, a secretária da escola. “O Sicha? Melhor professor que tem. Não é rígido, deixa a gente bem livre pra nos desenvolvermos no nosso ritmo”, disse um aluno. Já outro contou “muito legal ele. Acho que todo mundo gosta dele, tem um cara que eu conheço que já tem cinco anos de aula com ele. Mas o melhor é quando vamos comer salgado aqui perto.”

continua...

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Classe "A" Investiga - Fenômeno Sicha - Parte 1

Alguns comerciantes de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, não têm do que reclamar. Apesar de o país inteiro estar apertando o cinto com os gastos, principalmente lazer, esses comerciantes estão lucrando como nunca graças a um fenômeno conhecido como “Danilo Sicha”.

Estes conhecido jogador do plantel do FACAA (Futebol Arte Classe “A” e Amigos) e músico vem contribuindo para a economia local de forma impressionante. A nossa equipe tentou entrevistá-lo durante uma semana sem sucesso, no entanto, foi possível entender esse fenômeno econômico ao redor dele.

Na segunda-feira fomos à residência do multi-tarefas pela manhã para conversar, mas ele estava dormindo. Quando retornamos, após uma pausa para o almoço, ele havia saído para pescar, como faz todas as segundas. Jaime, seu mordomo, forneceu à nossa equipe de jornalismo o nome e endereço de alguns pesqueiros que Danilo costuma ir. Apenas no final da tarde, depois de visitar cinco pesqueiro, encontramos aquele que Sicha havia passado a tarde. Mas chegamos tarde e ele já havia ido embora. Aproveitamos para conversar com Toshiro Kobaiashi, o proprietário.




Toshiro disse “O Sicha é muito querido aqui, ele vem pelo menos duas vezes por mês, né! Antes do Sicha a gente fechava nas segundas, mas agora é o segundo dia mais lucrativo, só perde pro domingo”. Toshiro ainda contou como esse fenômeno melhorou os investimentos e possibilitou a contratação de pessoas: “agora nós temos mais pessoas trabalhando aqui. Contratei meu sobrinho e a esposa dele pra cozinhar e trabalhar de garçom. Tem o Almeida que é professor de pesca, o primeiro do estado inteiro. E ainda contratei o Juquinha, mas ele só trabalha nas segundas, ele é o colocador oficial de iscas”.




Curiosos, conversamos com Juquinha, que se negou a dar entrevistas por ser menor de idade. Ele nos revelou que todas as iscas que Sicha usa é ele quem coloca. Disse ainda estar muito satisfeito com o emprego e que ainda faz um extra: ele segura a vara e fisga para o Danilo quando ele está cansado.

continua...

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Classe "A" Investiga - Fenômeno Sicha - Chamada

Um outro país dentro do Brasil?



É isso que temos impressão. Enquanto o Brasil inteiro reclama da crise e recessão, vários comerciantes de uma determinada região sorri de “orelha a orelha”.

Como é possível? É o que vamos descobrir. Acompanhe a partir de 19/08 essa reportagem realizada por nossa equipe jornalística. Serão três partes, no ar, às 19:30. Não percam.

O Único Assassinato de Cazuza - parte 1


O Único Assassinato de Cazuza

de Lima Barreto


HILDEGARDO BRANDÃO, conhecido familiarmente por Cazuza. tinha chegado aos seus cinqüenta anos e poucos, desesperançado; mas não desesperado. Depois de violentas crises de desespero, rancor e despeito, diante das injustiças, que tinha sofrido em todas as coisas nobres que tentara na vida, vieralhe uma beatitude de santo e uma calma grave de quem se prepara para a morte.

Tudo tentara e em tudo mais ou menos falhara. Tentara formar-se, foi reprovado; tentara o funcionalismo, foi sempre preterido por colegas inferiores em tudo a ele, mesmo no burocracismo; fizera literatura e se, de todo, não falhou, foi devido à audácia de que se revestiu, audácia de quem " queimou os seus navios". Assim mesmo, todas as picuinhas lhe eram feitas. As vezes, julgavam-no inferior a certo outro, porque não tinha pasta de marroquim; outras vezes tinham-no por inferior a determinado " antologista" , porque semelhante autor havia, quando " encostado" ao Consulado do Brasil, em Paris, recebido como presente do Sião, uma bengala de legítimo junco da Índia. Por essas do rei e outras ele se aborreceu e resolveu retirar-se da liça. Com alguma renda, tendo uma pequena casa, num subúrbio afastado, afundou-se nela, aos quarenta e cinco anos, para nunca mais ver o mundo, como o herói de Jules Verne, no seu "Náutilus". Comprou os seus últimos livros e nunca mais apareceu na Rua do Ouvidor. Não se arrependeu nunca de sua independência e da sua honestidade intelectual.

Ao cinqüenta e três anos, não tinha mais um parente próximo junto de si. Vivia, por assim dizer, só, tendo somente a seu lado um casal de pretos velhos, aos quais ele sustentava e dava, ainda por cima, algum dinheiro mensalmente.

A sua vida, nos dias de semana, decorria assim: pela manhã, tomava café e ia até a venda, que supria a sua casa, ler os jornais sem deixar de servir-se, com moderação. de alguns cálices de parati, de que infelizmente abusara na mocidade. Voltava para a casa, almoçava e lia os seus livros, porque acumulara uma pequena biblioteca de mais de mil volumes. Quando se cansava, dormia. Jantava e, se fazia bom tempo, passeava a esmo pelos arredores, tão alheio e soturno que não perturbava nem um namoro que viesse a topar.

Aos domingos, porém, esse seu viver se quebrava. Ele fazia uma visita, uma única e sempre a mesma. Era também a um desalentado amigo seu. Médico, de real capacidade, nunca o quiseram reconhecer porque ele escrevia "propositalmente" e não "propositadamente", "de súbito" e não - "às súbitas", etc., etc.

Tinham sido colegas de preparatórios e, muito íntimos, dispensavam-se de usar confidências mútuas. Um entendia o outro, somente pelo olhar. Pelos domingos, como já foi dito, era costume de Hildegardo ir, logo pela manhã, após o café, à casa do amigo, que ficava próximo, ler lá os jornais e tomar parte no " ajantarado", da família.

Naquele domingo, o Cazuza, para os íntimos, foi fazer a visita habitual a seu amigo doutor Ponciano.
Este comprava certos jornais; e Hildegardo, outros. O médico sentava-se a uma cadeira de balanço; e o seu amigo numa dessas a que chamam de bordo ou; de lona. De permeio, ficava-lhes a secretária. A sala era vasta e clara e toda ela adornada de quadros anatômicos. Liam e depois conversavam. Assim fizeram, naquele domingo.

Hildegardo disse, ao fim da leitura dos quotidianos:

 - Não sei como se pode viver no interior do Brasil .

- Porque ?

- Mata-se à toa por dá cá aquela palha. As paixões, mesquinhas paixões políticas, exaltam os ânimos de tal modo, que uma facção não teme eliminar o adversário por meio do assassinato, às vezes o revestindo da forma mais cruel. O predomínio, a chefia da política local é o único fim visado nesses homicídios, quando não são questões de família, de herança, de terras e, às vezes, causas menores. Não leio os jornais que não me apavore com tais notícias. Não é aqui, nem ali; é em todo o Brasil, mesmo às portas do Rio de Janeiro. É um horror! Além desses assassinatos, praticados por capangas - que nome horrível! - há os praticados pelos policiais e semelhantes nas pessoas dos adversários dos governos locais, adversários ou tidos como adversários. Basta um boquejo, para chegar uma escolta, varejar fazendas, talar plantações, arrebanhar gado, encarcerar ou surrar gente que, pelo seu trabalho, devia merecer mais respeito. Penso, de mim para mim, ao ler tais notícias, que a fortuna dessa gente que está na câmara, no senado, nos ministérios, até na presidência da república se alicerça no crime, no assassinato. Que acha você ?

- Aqui, a diferença não é tão grande para o interior nesse ponto. Já houve quem dissesse que, quem não mandou um mortal deste para o outro mundo, não faz carreira na política do Rio de Janeiro. - É verdade; mas, aqui, ao menos, as naturezas delicadas se podem abster de política; mas, no interior, não. Vêm as relações, os pedidos e você se alista. A estreiteza do meio impõe isso, esse obséquio a um camarada, favor que parece insignificante. As coisas vão bem; mas, num belo dia, esse camarada, por isso ou por aquilo, rompe com o seu antigo chefe. Você, por lealdade, o segue; e eis você arriscado a levar uma estocada em urna das virilhas ou a ser assassinado a pauladas como um cão danado. E eu quis ir viver no interior !. De que me livrei, santo Deus .

- Eu já tinha dito a você que esse negócio de paz na vida da roça é história. Quando cliniquei, no interior, já havia observado esse prurido, essa ostentação de valentia de que os caipiras gostam de fazer e que, as mais das vezes, é causa de assassinatos estúpidos. Poderia contar a você muitos casos dessa ostentação de assassinato, que parte da gente da roça, mas não vale a pena. É coisa sem valia e só pode interessar a especialistas em estudos de criminologia.

- Penso - observou Hildegardo - que esse êxodo da população dos campos para as cidades, pode ser em parte atribuído à falta de segurança que existe na roça. Um qualquer cabo de destacamento é um César naquelas paragens - que fará então um delegado ou subdelegado É um horror! 


continua...

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Frase da Semana #24

Dando continuidade à "Semana da Galinha"

"Não se deve contar com o ovo dentro da galinha"


terça-feira, 11 de agosto de 2015

Questão de Opinião #13 - A galinha dos Ovos de Ouro

A Galinha dos Ovos de Ouro

Quando pequenos ouvimos muitas estórias, contos e fábulas contadas por nossos pais, professores e até mesmo na televisão (hoje em dia computadores e tabletes). Um conto que estava pensando essa semana é o da “Galinha dos ovos de ouro” (você pode lê-lo aqui)

Resumindo, neste conto um casal muito avarento recebe uma galinha que põe um ovo de ouro todos os dias. Primeiramente, o casal não acredita, mas após comprovarem ser verdade ficam entusiasmados, mas o entusiasmo passa ao perceberem que tem que esperar até o dia seguinte para um novo ovo ser botado. Eis que a mulher tem uma idéia: os ovos já estão dentro da galinha, então é só abri-la e pegar todos os ovos de uma só vez ao invés de esperar. Quando fazem isso, não encontram nada e no fim ficam sem os ovos e sem a galinha.



Sempre que ouvia essa estória vinha a moral dizendo sobre a ganância do casal que, por querer ter tudo na hora e não saber esperar, ficaram sem nada. No entanto, hoje em dia, sempre que ouço qualquer referencia ao conto não é sobre a moral, e sim sobre a galinha. Sobre as pessoas conseguirem “a galinha dos ovos de ouro” e não precisarem mais trabalhar,  pois a galinha proverá os ovos.

A ironia dos dias de hoje está justamente nesse contraste, como muitas pessoas só se lembram que “existe uma galinha que põe ovos de ouro” esquecem da moral da estória alertando sobre o perigo da ganância. Existe um número muito grande, ainda bem que não maioria, de pessoas que matam suas galinhas (até mesmo as que botam ovos comuns). Pessoas que preferem comer a carne por, apenas, dois dias ao invés de comer ovos durante meses. “Que absurdo!” , você pode pensar caro leitor, mas é verdade.

Conversando com pessoas ou assistindo os noticiários você toma conhecimento de pessoas que roubam, fraudam as empresas em que trabalham, ou mesmo que são donos ou sócios, com os famosos caixas-dois. E o que é isso se não matar sua galinha poedeira? O fruto desse ato de desonestidade rende um “ganho extra”, mas coloca em risco seu emprego (ou a saúde financeira de sua empresa). Ouço estórias (ou seriam histórias?) de pessoas que praticaram esse tipo de ação e perderam o emprego, e para conseguir outro não é fácil. E muitas vezes (quase todas), até que se consiga um novo emprego, esses ganhos são inferiores à quantia que teriam recebido se tivessem continuado trabalhando.



Mas para matar a galinha basta roubar? Lógico que não, existem outras tantas formas para isso. Forçar uma demissão para conseguir o seguro desemprego, agir de má-fé (preste muita atenção no “má-fé) para processar o patrão alegando alguma irregularidade durante o período em que esteve trabalhando.  Uma pena esse texto não funcionar para políticos corruptos, que mesmo envolvidos em esquemas e tramóias continuam sendo eleitos. 


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A Galinha dos Ovos de Ouro

A Galinha dos Ovos de Ouro

Era uma vez um casal sem filhos que vivia numa pequena cidade do interior. Eles eram conhecidos por serem muito avarentos e nunca estarem satisfeitos com nada. Se estava sol, queixavam-se do calor; se estava frio e chuva queixavam-se de viver num sítio onde nem sequer podiam sair de casa… 
Para além do mais, eram capazes de tudo por uma moeda de ouro!

Um dia, um duende brincalhão que por ali passava ouviu o que se comentava na cidade sobre esse casal, e decidiu provar se era verdade tudo aquilo que se dizia sobre eles.

Numa tarde em que o marido vinha da floresta carregado com lenha, o duende apareceu-lhe de dentro do tronco de uma árvore e disse-lhe: “Olá bom homem! Sentes-te bem? Pareces cansado e triste… Será que estás com fome ou doente?

O homem, um pouco assustado com a presença do duende, respondeu: “Não… não estou doente nem cansado, e também não tenho fome… nada de mal se passa comigo. Só estou triste porque eu e a minha mulher somos pobres e não conseguimos ter muitas coisas boas como gostaríamos de ter… 

Então o duende respondeu: ”Se não tens fome nem frio nem estás doente, então alegra-te porque não és pobre!”.
Mas o homem insistiu: “Sou sim. Um homem que não tem ouro é pobre!”.

O duende riu-se e respondeu: “Olha que estás enganado. Eu se quiser posso ter todo o ouro do mundo, pois como sou duende sei onde se escondem todos os tesouros. Mas a mim o que me faz falta é a luz do dia, ter o que comer e uma casa quentinha onde possa dormir descansado. Além disso preciso de ter saúde e ser forte para poder caminhar e apreciar tudo o que me rodeia. E como tenho tudo isso sou muito rico e feliz!

“Disparate!” Disse o homem, e insistiu “Ser pobre quer dizer que não se tem ouro. E como eu não tenho ouro não posso ser feliz”.

“Tenho muita pena de ti homem” disse-lhe o duende “E para que sejas feliz como achas que deves ser, vou dar-te uma galinha que todos os dias porá um ovo de ouro. Só terás de esperar e recolher todos os dias um ovo. Não tarda nada, terás todo o ouro que sempre desejaste ter e tu e a tua mulher serão felizes para sempre”.

Do tronco onde estava o duende saiu uma galinha que cacarejava alegremente. O homem, espantado, colocou-a rapidamente debaixo do braço e desatou a correr ladeira abaixo direitinho a casa, enquanto o duende ria às gargalhadas.
Assim que entrou em casa mostrou à sua esposa a galinha e contou-lhe tudo o que tinha acontecido.

Marido e mulher ficaram toda a noite à espera que a galinha pusesse o tão desejado ovo de ouro. De manhã cedo, a galinha começou a cacarejar e, pouco depois, surgiu debaixo dela um enorme e brilhante ovo de ouro!

Ao verem o ovo, o casal ficou radiante mas, minutos depois, a mulher comentou: “Que chatice… teremos de esperar até amanhã para termos outro ovo de ouro!”. Ao que o marido respondeu: “Pois é… que azar. Terão de passar muitas semanas até termos ovos suficientes para sermos os mais ricos da cidade. Devia ser por isso que o duende se ria às gargalhadas quando me deu a galinha”.

Então a mulher lembrou-se: “Sempre ouvi dizer que as galinhas já têm dentro delas todos os ovos que vão pôr… Se isso é verdade, porque é que não matamos agora a galinha e tiramos todos os ovos de ouro de uma vez? Seremos bem mais espertos do que o duende pensa!”.

O homem concordou, e sem hesitar, pegaram na pobre galinha e abriram-na para assim poderem tirar todos os ovos.
Mas qual não foi o espanto do casal ao ver que dentro da galinha não havia nenhum ovo de ouro…
Marido e mulher começaram a praguejar e a chorar, lamentando-se da sua sorte, pois por ganância tinham perdido para sempre a galinha dos ovos de ouro.

Espreitando pela janela, o duende ria-se e abanava a cabeça, pensando que a verdadeira felicidade não está em ter ou não ouro mas está sim no coração de cada um.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Música para o FDS #22 - Stolen Birds

Bem pessoal, primeira sexta-feira do mês, vocês já sabem o que acontece por aqui.

Esta banda de Maringá/PR fiquei conhecendo algumas semanas atrás no evento "Domingo no Lago". Apesar de nacional, a maioria das músicas da banda são em inglês. Confiram.



quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Já ouviu falar em Crowdfunding? #3

Já escrevi aqui antes sobre o crowdfunding, primeiro para explicar como funciona (este aqui) e depois sobre o que eu acho importante para um projeto ser bem sucedido (agora este). Nos dois posts antigos deixei três projetos que eu achava interessante.

Pois bem, já se passou algum tempo e eu apoiei alguns projetos. A maioria foram quadrinhos, nem imaginava que seria isso, mas foi. E já começaram a chegar as recompensas desses projetos (todos que apoiei foram bem sucedidos). O mais legal, é que os dois que já chegaram foram de surpresas, eu não estava esperando, mesmo sabendo que já haviam sido enviados, mas a surpresa deixa a sensação de receber bem mais legal.

Willtirando
Chegou tem quase um mês. Eu havia comprado uns livros atraves do site de uma livraria e estava acompanhando o deslocamento, no dia esperado para a chegada fui ver com o guarda se tinha algo para mim, e ele disse que sim. Fui pegar havia uma caixa grande e um envelope menor, branco, acompanhando. Pensei que era um dos livros da encomenda, como quando comprei era pré-venda, pensei que era o motivo de estar embalado separado.



Em casa abri a caixa e comecei a apreciar as capas e ler a parte de trás, quando bati o olho no outro envelope e vi escrito “Apucarana”. “Caramba, como assim?”, ai caiu a ficha larguei aqueles livros e dediquei minha atenção ao envelope. Era o livro do Will, junto com o manual de como ser o pior namorado do mundo e outras “cositas mas”. Fui lendo as tirinhas, alguns detalhes nas páginas e os extras.

É um livro de tirinhas, a maioria retiradas do site (www.willtirando.com.br). Como eu acompanho o site diariamente já a, pelo menos, três anos, a maioria já havia lido. Porém é sempre bom relembrar algumas, ainda mais algumas que marcaram. Mas comprar um livro com tirinhas que já vi de graça na internet? Cara, além de agora poder pegar o livro na estante e folhear a hora que eu bem entender, é uma pequena retribuição ao cara que produz algo que consumo sem eu pagar um centavo se quer. E ainda tem algumas paginas inéditas com a Anésia.


Navio Dragão
Chegou semana passada (exatamente uma semana), tambem estava chegando e me avisaram que tinha chegado uma encomenda, como não esperava pensei “o que será?” Era o navio, pronto para navegar. Abri o envelope e lá estava o livro, junto ainda com o gibi do carne e os baleias 1 e 2 e outros brindes.



Cara, desde a etiqueta personalizada com um elmo viking até o material dentro, tudo embaladinho delicadamente, tinha que ser coisa de mulher. Não me contive, já sentei no sofá e li o livrinho da primeira à última página, e já emendei o gibi do carne e os baleias na sequência; saboreando cada traço, cada cor e cada manja da Lif (a Rebeca Prado faz os quadrinhos do Navio Dragão em aquarela, ai fica “manjadas” as cores).


Conheci ela no catarse através da campanha (que até sugeri, lembra?) e passei a visitar o site www.naviodragao.wordpress.com. A campanha dela me fez acreditar no projeto. As recompensas não eram super-extimadas (tipo um marca páginas R$15,00), muito pelo contrário, e ainda teve recompensas extras porque o projeto atingiu um valor a mais, uma segunda meta \o/. Mas e o vídeo? Se a descrição (com os desenhos e endereço do site) e as recompensas já me deixaram balançados, com o vídeo ganhou essa mineira ganhou de vez meu coração, não tinha como dizer não.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Questão de Opinião #12 - Andar de Bicicleta

O andar de bicicleta

Algo que acho bastante interessante de se fazer é andar de bicicleta. Uma armação de metal com duas rodas alinhadas, guidão para direcionar, pedais e corrente para fazê-la movimentar. Parece tão simples, mas é capaz de nos dar uma maior velocidade para percorrer maiores distancias, fazer exercícios físicos e até praticar esportes. O único empecilho é que é necessário ter equilíbrio.

Sem equilíbrio você cai, no entanto, quando ela está andando é preciso menos equilíbrio, veja uma criança. É muito comum ver em filmes, e na vida real também, a criança aprender a andar de bicicleta. Primeiro ela o faz com o uso de rodinhas que não a deixam tombar. Quando são tiradas, normalmente, ela não consegue se manter de pé e se vê algum adulto segurando enquanto ela dá as primeiras pedaladas, e o adulto a acompanha, até um ponto em que ele solta ela e a criança mantém a bicicleta em pé, aí o problema passa a aprender a frear.



Nossa vida não é muito diferente, não podemos parar, se isso acontecer, caímos. O inicio é auxiliado por adultos, mas precisamos pedalar com nossas próprias forças. Se não pedalarmos, não nos esforçarmos, não vamos tão longe.


Quem quer ir longe com sua bicicleta tem que pedalar muito, quem quer ir longe na vida tem que se esforçar muito. Quem sabe no futuro, longe do inicio, seja possível fazer uma parada, programada, à sombra de uma árvore e descansar um pouco? Sendo esperada essa parada, pode-se colocar o pé no chão antes de levar o tombo.


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A Canção do Boêmio - Castro Alves

Hoje eu trago algo um pouco diferente. Apesar de ser mais voltada à contos essa coluna, hoje temos um poema de Castro Alves, baiano escritor, pertencente à 3ª Geração do Romantismo brasileiro, a condoreira.

A Canção do Boêmio

Que noite fria! Na deserta rua
tremem de medo os lampiões sombrios.
Densa garoa faz fumar a lua,
ladram de tédio vinte cães vadios.
Nini formosa! Por que assim fugiste?
Embalde o tempo à tua espera conto.
Não vês, não vês?… Meu coração é triste,
como um calouro quando leva ponto.
A passos largos eu percorro a sala,
fumo um cigarro que filei na escola…
Tudo no quarto de Nini me fala,
embalde fumo… tudo aqui me amola.
Diz-me o relógio, cinicando a um canto:
— Onde está ela que não veio ainda? –
Diz-me a poltrona: por que tardas tanto?
Quero aquecer-te, rapariga linda.
Em vão a luz da crepitante vela
de Hugo clareia uma canção ardente;
tens um idílio — em tua fronte bela…
um ditirambo — no teu seio quente…
Pego o compêndio… inspiração sublime!
Pra adormecer… inquietações tamanhas…
Violei à noite o domicílio, ó crime!,
onde dormia uma nação… de aranhas…
Morrer de frio quando o peito é brasa. . .
quando a paixão no coração se aninha?!
Vós, todos, todos, que dormis em casa,
dizei se há dor que se compare à minha!…
Nini! o horror deste sofrer pungente
só teu sorriso neste mundo acalma…
Vem aquecer-me em teu olhar ardente…
Nini! Tu és o cachenê dest’alma.
Deus do Boêmio! São da mesma raça
as andorinhas e o meu anjo louro…
Fogem de mim se a primavera passa,
se já nos campos não há flores de ouro…
E tu fugiste, pressentindo o inverno,
mensal inverno do viver boêmio…
Sem te lembrar que por um riso terno
mesmo eu tomara a primavera a prêmio…
No entanto ainda do Xerez fogoso
duas garrafas guardo ali… Que minas!
Além, de um lado, o violão saudoso
guarda no seio inspirações divinas…
Se tu viesses… de meus lábios tristes
rompera o canto… Que esperança inglória!…
Ela esqueceu o que jurar-lhes vistes,
ó Paulicéia, ó Ponte Grande, ó Glória!…
Batem!… Que vejo! Ei-la afinal comigo…
Foram-se as trevas… fabricou-se a luz…
Nini! Pequei… dá-me exemplar castigo!
Sejam teus braços… do martírio a cruz.

Castro Alves