Lá se vão mais de cinco anos que sai de casa para continuar
os estudos e, posteriormente, trabalhar. Foram duas cidades que morei desde
então, e todas as duas mais de 600 km distantes da minha cidade natal. Como volto
com certa freqüência para visitar os familiares, amigos e outros compromissos, já
percorri, tranquilamente, mais de 150 mil km durante esse período, ou seja, quase
quatro voltas ao redor do nosso planeta (a circunferência da Terra é de 40.075
km). A maioria das viagens foram de carro e algumas nos ônibus.
Em viagens de ônibus você não escolhe quem sentará ao seu
lado (e aparece cada figura), mas no carro existe essa possibilidade. Já viajei
com minha mãe, namorada e amigos, e digo: o pior tipo de pessoa para te fazer
companhia na viagem enquanto você dirige é você mesmo. Quando você não está
dirigindo sempre há a possibilidade de dormir ou conversar com outra pessoa
(haverá pelo menos mais uma pessoa: o motorista), mas caso contrário, tem que
ficar o tempo todo acordado.
Essas viagens que faço duram mais de sete horas. É muito
tempo comigo mesmo. Por mais que monto um CD bacana e encho o pen drive de
músicas, é muito tempo. Hoje já me acostumei, mas pode ser complicado. Por ser
muito tempo, mesmo a música não será capaz de ocupar sua cabeça durante todo o
trajeto. Há também um período de vazio em que só há a estrada. Mas,
inevitavelmente uma hora, você se depara com você mesmo, e descobre ser a
última pessoa que gostaria de encontrar. Todos nós temos nossas máscaras
sociais, pequenas (ou grandes) mentiras que contamos para os outros, segredos
que não revelamos e somos felizes assim, não somos julgados. Mas não existem
mentiras ou segredos de você para consigo mesmo e o julgamento se torna
inevitável, implacável. Por mais que tente esconder você saberá que é mentira,
não há como fugir.
Somos julgados por todo mundo, o tempo todo, querendo ou não, e não gostamos disso. No entanto, nós também julgamos todo mundo, o tempo todo, querendo ou não. Então, quando estamos sozinhos acabamos julgando a nós mesmo, e não gostamos disso. A nossa vida hoje, de certa forma, é planejada para que possamos fugir de nós mesmos. Quando entramos no carro, a primeira coisa que fazemos é ligar o rádio; ao chegar em casa, ligamos a televisão; quando vamos caminhar colocamos um fone de ouvido e escutamos músicas. Tudo isso são formas de criar distrações e nos evitarmos.
Mas esse encontro com nós mesmos é ruim? Sinceramente, não acho. É uma baita
oportunidade de autoconhecimento, de repassar sua vida e (talvez) detectar
erros para não cometê-los novamente, simular possibilidades de futuro de acordo
com decisões que temos que tomar, e tomá-las mais conscientemente. Porém, não é
para todos isso, principalmente as primeiras vezes. Você tem que se aceitar. E
se aceitar não é simplesmente abaixar a cabeça e continuar com seus erros, e
sim aceitar que há esses erros e tentar consertá-los, sempre buscando se tornar
uma pessoa melhor.
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