segunda-feira, 4 de maio de 2015

A Morte que fez um homem rico


     Um homem tinha muitos filhos, e já todos os homens da freguesia eram seus compadres. A mulher  alcançou outra vez e pronta estava para parir.O homem, que não queria pedir a mais ninguém, abalou de casa.
     Encontrou no caminho um homem muito desfigurado, que lhe perguntou onde ia. Ele contou-lhe, e o homem disse-lhe que voltasse para trás, que ele era o seu padrinho.
     Assim foi.
     Quando acabou o batizado, o homem disse: 
    -Compadre, repare bem em mim, para me conhecer onde quer que me encontrar. Eu sou a Morte. Tu muda de casa e faz-te médico, que hás de ganhar muito dinheiro. Em tu me vendo aos pés da cama de qualquer doente, é porque ele escapa. Em tu me vendo à cabeceira, é porque morre.
     O homem assim fez;  começou a ter fama e ganhava muito dinheiro e já estava muito rico mais os filhos. Num dia a Morte chegou ao pé dele e disse-lhe:
     -Bem, agora já te fiz rico, mas hoje chegou a tua vez e venho mata-te.
     O homem pediu que o deixasse viver mais um ano. A morte consentiu. O homem então mandou fazer uma torre de bronze, com as paredes muito grossas, para a Morte não entrar lá.
     Quando o ano estava quase a acabar, ele mandou lhe fazer um anel de ouro, meteu-o no dedo e fechou-se na torre. Estava lá jantando, e apareceu-lhe a Morte ao pé dele.
     Ele, muito assustado, perguntou-lhe:
     -Ó comadre Morte, tu por onde é que entraste?
     A Morte disse que pelo buraco da fechadura. Ele então disse-lhe: Já que te meteste pelo buraco da fechadura, hás de meter-se pelo buraco desta cabaça.
     A Morte meteu-se e ele tapou a cabaça com uma rolha e disse à Morte:
     -Agora sai daí para fora se és capaz.
     A Morte disse-lhe:
     -Ó compadre, pois eu te fiz tanto beneficio, e tu queres me deixar dentro dessa cabaça? Tira a rolha e não lhe faço mal.
     O homem tornou a perguntar –lhe se ela não lhe faria nenhum mal. A Morte disse que não. Ele destapou a cabaça e, ao tempo que destapou, caiu, mas não morto, e a Morte roubou-lhe o anel. Ele disse:
     -Ó comadre, então tu prometeste-me que não me matavas, e agora queres me matar. Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave-Maria pela minha alma.
     A morte consentiu. 
     E o que ele fez?
     Começou a rezar o Padre-Nosso até o meio e depois tornava a começar. De modo que a Morte não o podia matar.
     O homem então saiu da torre e começou outra vez sua vida. Um dia andava ele à caça e a Morte fingiu-se de morto, disse:
     -Ah! Pobre homem, quem te matou? Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave-Maria pele tua alma.

     Rezou, mas ao tempo que acabou, a Morte levantou-se e matou-o.

(Retirado do livro "Contos Populares Portugueses")

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