Hoje completa 20 anos que tenho esse certificado em mãos. 20
anos. Mais da metade da minha vida inteira. O mais curioso disso tudo é que
pouquíssimas pessoas já o viram, outras sequer tem noção de sua existência. Ele
passou todo esse tempo guardado longe dos olhos das pessoas, não por eu ter
vergonha, muito pelo contrário, mas tinha um receio de ser julgado como
presunçoso, pensarem que “eu tinha o rei na barriga”, coisas que vão totalmente
contra minha forma de pensar e agir. No entanto, o tempo passa e vamos
amadurecendo e ganhando sabedoria e hoje eu sei que eu sou responsável por
aquilo que faço e digo, mas não posso ser responsável por aquilo que as outras
pessoas pensam ou interpretam de nossos atos.
Contando um pouco da história desse certificado é o mesmo
que contar sobre um dos maiores pontos de mudança na minha vida. Todas as decisões
que tomamos tem consequências, desde pequenas até gigantescas, e são pontos que
vão fazendo nossas vidas fazerem curvas. Em 1992 entrei na primeira série em um
colégio estadual em Ribeirão Preto, onde passei os 8 anos seguintes nele com
basicamente os mesmos amigos de sala (que os tenho em meu coração até hoje e
eles sabem da sua importância em minha vida) e tudo mais. Em 1999 tive a
oportunidade de participar da Maratona de Matemática organizada pela FMRP da
USP, feita a primeira etapa fui classificado com mais 49 alunos de oitava série
para a segunda e então terminei o certame entre os 6 primeiros. Como premiação
ganhei uma bolsa de estudos integral em um colégio particular da cidade. Uma
mudança e tanto na minha vida, deixar para trás a única escola que estudei e
meus amigos para atravessar a cidade, mas me propiciou uma educação melhor que
eu estava disposto a aproveitar ao máximo essa oportunidade e permitiu a mim
fazer escolhas do rumo da minha vida e não só me contentar com o que fosse me
empurrado, porque é isso que a educação te permite: fazer escolhas.
Apesar de fazer 20 anos que recebi esse certificado são dois
dias um pouco antes disso que me enche os olhos de lágrimas ao lembra-los, de
tão significativos que são. O primeiro é o dia 30 de novembro, dia do jogo
entre Palmeiras Manchester pelo mundial, dia que minha classe e da minha irmã
foram de passeio a um clube e o fatídico dia da etapa final da maratona. Prova
começaria as 13 (se não me engano), cheguei um pouco antes e estava sentado na
escadaria em frente ao anfiteatro da bioquímica da FMRP. Os outros
participantes também lá estavam conversando e eu sozinho, sentado, apenas
ouvindo e refletindo com meus botões. A galera parecia tão inteligente que
comecei a imaginar o que eu estava fazendo ali e que não teria qualquer chance.
Depois pensei que sim, teria chance, afinal, estava ali como todos os outros,
mas foi aí que a porca torceu o rabo, porque se eu tinha chance e conseguisse
uma bolsa teria que sair da escola e abandonar meus amigos. Pensei em me boicotar
e errar tudo de propósito, estava decidido. Então eu ali simplesmente olhando
para frente aquela imensidão verde formada pelas copas das árvores e aquele seu
azul com poucas nuvens, mas era um azul celeste, da cor do manto de Nossa
Senhora, nossa Mãe, e me fez pensar na minha própria mãe, o quanto de fé e
confiança que ela estava depositando em mim, ela e a professora Adriana, e não
havia como decepcioná-las. Desse modo, por elas, decidi dar meu melhor. Rezei
pedindo a Deus que me fizesse instrumento de sua vontade e à Nossa Senhora que
intercedesse por mim e passasse na frente, e fui fazer a prova. Dias depois
recebo a ligação da faculdade dizendo que havia sido classificado e estavam
confirmando meus dados e dizendo a dada da cerimonia da premiação. Eu triste
por ter de abandonar meus amigos de tantos anos, mas quando souberam houve uma
explosão de felicidade e eu pude ver o quanto eu era querido e soube que onde
eu fosse eu poderia contar com eles.
Então é isso, hoje faz 20 anos que tenho esse certificado em
mão e gostaria de compartilhar com vocês, não o certificado mas sim a gratidão
a todos que me ajudaram a alcança-lo e principalmente à minha mãe e a
professora Adriana que forma minhas grandes inspirações. (profa. Adriana, quero
que saiba que não tem um ia que não penso na sra e o quanto foi importante sua presença
na minha vida e agradeço a isso). E dizer que a educação é o caminho para
podermos ascender, ao menos como ser humano.
Não sou responsável pelo que irão interpretar. Imagino
também que casos assim é 1 em 1 milhão, mas melhor um em um milhão que zero em
um milhão. A vitória não é certa para aqueles que decidem batalhar, mas a
derrota com certeza é para aqueles de desistem.