sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Gratidão


Hoje completa 20 anos que tenho esse certificado em mãos. 20 anos. Mais da metade da minha vida inteira. O mais curioso disso tudo é que pouquíssimas pessoas já o viram, outras sequer tem noção de sua existência. Ele passou todo esse tempo guardado longe dos olhos das pessoas, não por eu ter vergonha, muito pelo contrário, mas tinha um receio de ser julgado como presunçoso, pensarem que “eu tinha o rei na barriga”, coisas que vão totalmente contra minha forma de pensar e agir. No entanto, o tempo passa e vamos amadurecendo e ganhando sabedoria e hoje eu sei que eu sou responsável por aquilo que faço e digo, mas não posso ser responsável por aquilo que as outras pessoas pensam ou interpretam de nossos atos.

Contando um pouco da história desse certificado é o mesmo que contar sobre um dos maiores pontos de mudança na minha vida. Todas as decisões que tomamos tem consequências, desde pequenas até gigantescas, e são pontos que vão fazendo nossas vidas fazerem curvas. Em 1992 entrei na primeira série em um colégio estadual em Ribeirão Preto, onde passei os 8 anos seguintes nele com basicamente os mesmos amigos de sala (que os tenho em meu coração até hoje e eles sabem da sua importância em minha vida) e tudo mais. Em 1999 tive a oportunidade de participar da Maratona de Matemática organizada pela FMRP da USP, feita a primeira etapa fui classificado com mais 49 alunos de oitava série para a segunda e então terminei o certame entre os 6 primeiros. Como premiação ganhei uma bolsa de estudos integral em um colégio particular da cidade. Uma mudança e tanto na minha vida, deixar para trás a única escola que estudei e meus amigos para atravessar a cidade, mas me propiciou uma educação melhor que eu estava disposto a aproveitar ao máximo essa oportunidade e permitiu a mim fazer escolhas do rumo da minha vida e não só me contentar com o que fosse me empurrado, porque é isso que a educação te permite: fazer escolhas.

Apesar de fazer 20 anos que recebi esse certificado são dois dias um pouco antes disso que me enche os olhos de lágrimas ao lembra-los, de tão significativos que são. O primeiro é o dia 30 de novembro, dia do jogo entre Palmeiras Manchester pelo mundial, dia que minha classe e da minha irmã foram de passeio a um clube e o fatídico dia da etapa final da maratona. Prova começaria as 13 (se não me engano), cheguei um pouco antes e estava sentado na escadaria em frente ao anfiteatro da bioquímica da FMRP. Os outros participantes também lá estavam conversando e eu sozinho, sentado, apenas ouvindo e refletindo com meus botões. A galera parecia tão inteligente que comecei a imaginar o que eu estava fazendo ali e que não teria qualquer chance. Depois pensei que sim, teria chance, afinal, estava ali como todos os outros, mas foi aí que a porca torceu o rabo, porque se eu tinha chance e conseguisse uma bolsa teria que sair da escola e abandonar meus amigos. Pensei em me boicotar e errar tudo de propósito, estava decidido. Então eu ali simplesmente olhando para frente aquela imensidão verde formada pelas copas das árvores e aquele seu azul com poucas nuvens, mas era um azul celeste, da cor do manto de Nossa Senhora, nossa Mãe, e me fez pensar na minha própria mãe, o quanto de fé e confiança que ela estava depositando em mim, ela e a professora Adriana, e não havia como decepcioná-las. Desse modo, por elas, decidi dar meu melhor. Rezei pedindo a Deus que me fizesse instrumento de sua vontade e à Nossa Senhora que intercedesse por mim e passasse na frente, e fui fazer a prova. Dias depois recebo a ligação da faculdade dizendo que havia sido classificado e estavam confirmando meus dados e dizendo a dada da cerimonia da premiação. Eu triste por ter de abandonar meus amigos de tantos anos, mas quando souberam houve uma explosão de felicidade e eu pude ver o quanto eu era querido e soube que onde eu fosse eu poderia contar com eles.

Então é isso, hoje faz 20 anos que tenho esse certificado em mão e gostaria de compartilhar com vocês, não o certificado mas sim a gratidão a todos que me ajudaram a alcança-lo e principalmente à minha mãe e a professora Adriana que forma minhas grandes inspirações. (profa. Adriana, quero que saiba que não tem um ia que não penso na sra e o quanto foi importante sua presença na minha vida e agradeço a isso). E dizer que a educação é o caminho para podermos ascender, ao menos como ser humano.

Não sou responsável pelo que irão interpretar. Imagino também que casos assim é 1 em 1 milhão, mas melhor um em um milhão que zero em um milhão. A vitória não é certa para aqueles que decidem batalhar, mas a derrota com certeza é para aqueles de desistem.